
Como se sabe, não correu da melhor forma o primeiro jogo do
Estrela na 2ª Divisão, Zona Sul, com uma derrota em casa, com o Lagoa (0-1), mas o desaire não demove da missão para esta temporada: subir de divisão. Já!
Na época passada, o nome do nosso clube andou em tudo o que é noticiário, devido a salários em atraso aos jogadores e equipa técnica. Existiram promessas semanais de pagamentos e até ameaças de greve. Ainda assim, o
Estrela acabou a Liga em 11º e foi às meias-finais da Taça de Portugal. Mas desceu por razões administrativas. O clube não preencheu os requisitos necessários para se inscrever. E, mais de 20 anos depois, um histórico do futebol português, com uma Taça no palmarés e uma presença nas competições europeias, regressou à 2ª Divisão. Fora dos campeonatos profissionais.
Actualmente, o presidente António Oliveira ainda está a regularizar as dívidas a jogadores da época transacta. O
Estrela deve 672 mil euros aos futebolistas, entre ordenados e prémios de jogo.
Para esta temporada, o
Estrela voltou à estaca-zero. Montaram um plantel novo, contrataram um director desportivo ("Bessone" Morais, ex-Real.S.C), depois da saída de José Luís, e um treinador novo: António Veloso, antiga glória do Benfica, ex-treinador do Oeiras e pai do sportinguista Miguel Veloso. Depois de passagens pelo distrital, entre Malveira e Oeiras, Veloso subiu o Oeiras à 3ª Divisão, mas não chegou a acordo para continuar. Foi uma aposta pessoal de António Oliveira para a missão.
"Sou ambicioso e queria equipas com mais ambição. Surgiu o
Estrela e agarrei com unhas e dentes", afirmou Veloso. O técnico admite que a situação do clube na época passada não o deixou indiferente. ''Essas questões preocupam sempre, mas eram um mal menor." A verdadeira preocupação era outra. E mais importante. Afinal, só tinha dois jogadores.
"A minha preocupação era conseguir uma equipa, uma coisa que não havia. Fizemos tudo do zero. Muita hora sem dormir e graças à força do presidente, conseguimos. Qualquer outra pessoa tinha desistido. A cada dia novo, tínhamos de resolver um problema de um jogador", recorda Veloso. Foram todos inscritos no último dia, depois da Direcção pagar alguns impedimentos.
Alvo a abater
No primeiro jogo da época, o Estrela eliminou o Mafra para a Taça de Portugal, no desempate por grandes penalidades. Marco Pinto, guarda-redes, defendeu duas grandes penalidades no tempo regulamentar e mais três na lotaria. Foi uma amostra do que espera o Estrela, numa competição muito competitiva, entre formações de valia semelhante. Para Veloso, o nome do Estrela pode virar-se contra o clube.
"Há uma motivação extra nos adversários para vencer o Estrela. Temos de ultrapassar isso", alerta o treinador, sem tirar o pensamento da subida "Foi isso que me pediu o presidente e é essa a nossa meta Mas não vai ser fácil. Há equipas na 2ª Divisão que investiram mais do que o Estrela", avisa António Veloso.
António Oliveira - Presidente do Est.Amadora
"Queriam o clube nos regionais."
A presença na 2ª Divisão é o princípio do resto da vida do Estrela?
- Não. O Estrela vai continuar a viver. Tenho muita tristeza por ver o Estrela cair nesta divisão. O que fizeram ao clube foi de grande injustiça. Caiu o Estrela e não caíram outros. Fizeram do Estrela uma bandeira.
Acha que foi o elo mais fraco?
- O Estrela foi o elo mais fraco e quiseram fazer do clube o bode expiatório dos problemas do futebol português. Iremos para os tribunais e vão decidir se os pressupostos de inscrição dos outros clubes estão correctos. A dra. Andreia Couto [directora executiva da liga] disse-me que, devido ao mediatismo do caso, o prazo não podia ser adiado. Faltavam-me as declarações de jogadores, o que também faltava a outros clubes. Os tribunais vão decidir.
Está a dizer que o Estrela pagou pelo mediatismo do caso?
- Pagou. Houve dirigentes que, para esconder o mal deles, andaram na praça pública a acusar-nos de concorrência desleal.
Como ficou a situação dos ordenados em atraso?
- Está a correr. Já pagámos a quatro ou cinco jogadores de forma integral. Tudo estamos a fazer para que recebam.
Foi difícil inscrever a equipa na 2ª Divisão?
- Muito. Ficámos com dois jogadores e 300 mil euros de impedimentos. Os próprios jogadores, quando diziam estar em negociações com o Estrela, eram avisados. Foi por isso que pagámos dois meses adiantados a todos.
Qual é o objectivo?
- Subir. O Estrela não pertence a este campeonato. Muita gente queria o clube nos Regionais, por interesses obscuros. O Estrela quer subir já este ano e foi isso que pedi aos jogadores.
Porque é que o Estrela não desperta atenção na própria cidade?
- Não sei, mas lamento. É pena que as entidades da Amadora não se lembrem que quem levou o nome da cidade ao país e ao estrangeiro foi o Estrela. O clube devia estar sediado noutra cidade. Teria mais apoios, de certeza.
Foi das pessoas que mais apareceu na época passada. Está cansado?
- Muito. Em seis anos, tive receitas penhoradas em cinco. Só uma pessoa cega e sem nada na cabeça mantinha uma equipa profissional e 400 miúdos na formação e resto de modalidades. Muita gente queria que o clube fechasse portas, mas não abandono o barco. Nem vai ao fundo.