Ricardo Janota cinco estrelas.

Em 23 jornadas, o Estrela da Amadora sofreu...17 golos. A melhor defesa na Zona Sul da 2ª Divisão. Uma marca significativa num campeonato onde impera o equilíbrio. Melhor no escalão só mesmo o Moreirense, líder destacado da Zona Norte, com 13 golos sofridos. O feito ganha ainda maior proporção atendendo à situação delicada do clube da Reboleira, em processo de insolvência.

«Não tem sido nada fácil», desabafa Ricardo Janota, guarda-redes que abandonou o Estrela no primeiro ano de iniciado, rumo ao Benfica, regressando esta época para, à 10ª jornada, conquistar a titularidade. Em 13 jornadas, 10 golos sofridos. O segredo?...
«Não há. Existe, acima de tudo, muita qualidade em todo o sector defensivo e depois há muito trabalho... Num sector onde normalmente se pede experiência, somos todos o oposto disso. É fácil ser guarda-redes do Estrela, jogar com esta defesa. Já conhecia alguns das selecções jovens e há uma grande confiança entre todos», explica.

Objectivo? Chegar ao jogo...

O Estrela da Amadora ocupa actualmente o 5.º lugar, em igualdade pontual com o Lagoa, na quarta posição.

«O objectivo no início da época era fazer um trajecto nos primeiros lugares e ver aquilo que ia dar no final. Neste momento resta-nos apenas pensar se podemos chegar ao próximo jogo, porque a estrutura do clube não dá para mais. Com mais estabilidade, não tenho dúvidas que estaríamos mais acima. Não digo em primeiro lugar, mas certamente com mais pontos», analisa Ricardo Janota, que não poupa elogios ao líder União:
«Temos de reconhecer que é uma equipa para outro campeonato. Tem jogadores mais experientes, maior orçamento e tem feito uma grande época. Estamos numa divisão nivelada por cima mas não ficamos a dever nada a todos os outros adversários que já defrontámos.»

Saber ganhar...no Benfica

Para Ricardo Janota, os anos passados no Benfica foram fundamentais para a sua formação, apesar das coisas não terem corrido da melhor maneira na Luz:
«Fui traído pela minha juventude e por não ter a força psicológica para jogar na equipa principal. Hoje reconheço sem qualquer problema que não estava preparado mentalmente para essa responsabilidade. Acabei por ainda jogar na equipa B mas entretanto, com a extinção desse projecto, rescindi contrato e fui para Vendas Novas. Mas ajudou-me muito ser formado num grande. Ajuda-nos a saber ganhar, a jogar no limiar do erro. Acima de tudo, ajudou-me a crescer como jogador.»
Seguiram-se três temporadas no Atlético e o regresso ao Estádio José Gomes.

«Todos pensam em sair do clube»

O plantel do Estrela está reduzido a 17 jogadores de campo e 3 guarda-redes. Somam-se aos problemas três meses de ordenados em atraso, ausência de departamento médico, refeições, autocarro e, brevemente, lavandaria. Dificuldades que não deixam de afectar uma equipa recheada de juventude mas que, semana após semana, continua a comparecer aos jogos.

«Nunca pensei que chegasse a este ponto. Quando decidi aceitar o convite para voltar sabia que as coisas não estavam bem mas não estava à espera disto», revela Ricardo Janota, que se recusa a deitar a toalha ao chão:
«Estamos a tentar reagir e parar não é opção. Não vamos deixar de jogar, como já nos disseram para fazer. Temos de nos sacrificar dia após dia para demonstrar que queremos e merecemos coisas melhores.» E o futuro, pode passar pela Reboleira? «Já não penso no Estrela. Aqui todos pensamos em sair para um clube melhor, quem sabe numa divisão acima. Agora apenas interessa acabar bem. A última imagem é a que fica.»

in Jornal Abola.